domingo, 13 de dezembro de 2009

Ecossistemas varejistas


A integração Pão de Açúcar - Casas Bahia (anunciada em 4/12/09) criou no Brasil um legítimo ecossistema varejista com força e poder de barganha em alimentos, não alimentos e serviços como "nunca antes na história deste país".
As fusões, aquisições, multiparcerias, lançamentos de formatos e empreendimentos dos últimos anos diferem das do passado e envolvem decisões estratégicas que expandem os negócios em vez de confiná-los em seus limites originais. O movimento desta fusão mostra que ecossistemas, da mesma forma que o universo, vivem em expansão contínua que criam novos horizontes para os negócios existentes.
Com o advento dos ecossistemas varejistas fica cada vez mais difícil definir formatos. Drogarias tornam-se spas e espaços de bem-estar, supermercados compactos tornam-se um formato de conveniência, lojas de vestuário absorvem o conceito de estilo de vida e passam a comercializar objetos de decoração e moda casa, hipermercados oferecem viagens, combustível, seguros, serviços médicos e produtos para o segmento luxo. Grandes varejistas dedicam mais esforços estratégicos aos negócios financeiros que à operação original, lojas de conveniência ampliam o espaço de alimentos e restaurantes abrem operações de conveniência.
De todos os operadores, a britânica Tesco – um dos players globais de desconto – é a inspiração de muitos varejistas. Dê uma olhada no site http://www.tesco.com/ e tente enumerar as áreas de negócio. Você vai chegar à conclusão de que está diante de uma nação.*

Michael Klein (esq.), da Casas Bahia, e Abilio Diniz, do Pão de Açúcar

  • Não ia escrever nada sobre a fusão Pão de Açúcar/Casas Bahia, primeiro por pudor: o que eu poderia acrescentar de informação além ou melhor do que já foi escrito?
  • Segundo porque o mote do blog é o varejo de moda. Mas, você não se pergunta quem impedirá este "império" de vender roupas e sapatos, mesmo não sendo a praia original deles?
  • Daí encontrei o texto acima - tão enxuto e repleto de pontos de reflexão - que não resisti.
  • Abriu uma espécie de "portão ultra dimensional" para além da questão apresentada e suscitou novos pontos de vista.
  • E você, o que pensa sobre fusões e grandes conglomerados comerciais?
* O texto acima foi assinado pela Beth Furtado, que escreve sobre Consumo e Inovação, no site Mundo do Marketing.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Por que compramos presentes de Natal?

Tudo indica que vai ser um "grande" mês de dezembro. Compraremos e distribuiremos presentes como nunca; provaremos de vez que o país saiu da crise de 2008.

Não importa, o Brasil já está entre os campeões mundiais em extravagância perdulária natalina. Claro, há muitos países ricos que, no Natal, gastam mais do que a gente, mas o que vale, nessa classificação, não são os valores absolutos, mas as vendas do varejo no mês de dezembro comparadas com as dos meses contíguos. Ora, em dezembro, no Brasil, gastamos cerca de 40% a mais do que as média de novembro e janeiro.

Sem críticas ao costume de oferecer presentes e os "excessos" das festas - a questão que interessa é outra: toda consideração moral à parte, será que os gastos natalinos são um bom negócio para a economia? Ou seja, gastando para presentes e ceias, estamos mesmo criando e distribuindo riqueza?

Joel Waldfogel, professor da Wharton (a famosa escola de administração da Universidade da Pensilvânia), acaba de publicar um pequeno livro, seriíssimo e divertido, "Scroogenomics - Why You Shouldn't Buy Presents for the Holidays" (Scroogeconomia - por que você não deve comprar presentes para as festas; Princeton Univ. Press). O livro defende que o Natal é uma calamidade econômica, durante a qual nossas sociedades, a cada ano, destroem riquezas consideráveis.

Para começar, Waldfogel repetiu em vários contextos culturais uma mesma experiência: perguntou a grupos de presenteados quanto eles se disporiam a pagar para adquirir os objetos que acabavam de receber.

No Brasil (em 2008) o resultado foi que, em média, os presenteados estariam dispostos a pagar, pelos presentes que tinham recebido, 47% a menos do que os ditos presentes tinham custado para os presenteadores. Ou seja, 47% do que foi gasto pelos presenteadores não produziu valor nenhum, perdeu-se na transação.

Entendeu? É um raciocínio simples mas de difícil apreensão: digamos que comprei para você, por R$ 100. Mas você, se tivesse que comprar o mesmo objeto, pagaria, no máximo, R$ 53. Ou seja, minha despesa subvencionou o comércio e a produção do objeto que comprei, mas ela foi uma catástrofe econômica: quase a metade do que gastei não serviu para nada. Joguei dinheiro fora.

Quer gostemos ou não da tradição natalina de trocar presentes, seria bom, comenta Waldfogel, que conseguíssemos, ao menos, tornar essa troca mais produtiva. Obviamente, Waldfogel aprova o uso do vale-presente (embora, nos EUA, misteriosamente, um vale-presente em cada dez não seja nunca resgatado) e nos encoraja a oferecer dinheiro, sem constrangimento.*

  • Quem quer ganhar dinheiro de presente de Natal? Só se for uma bolada, tipo mega-sena, senão não vale.
  • Presentes em dinheiro revelam-se tão pouco criativos... Frequentemente o presenteaedo "some" com o dinheiro e, em pouco tempo, nem se lembra mais do que comprou com ele.
  • Talvez seja bom mesmo racionalizar nossas trocas natalinas, como sugere o Prof. Waldfogel.
  • Mas fica sempre o desejo (ou a fantasia) de recebermos algo que, até então, literalmente, não sabíamos que queriamos.
  • O verdadeiro presente é aquele que nos revela nosso próprio desejo.

Surpreenda-me!

* crônica do psicanalista Contardo Calligari (Folha de São Paulo,
3 de dezembro de 2009)

Galeria - II

Entrada da nova loja de moda feminina, Cafochic (Jardins, São Paulo)

Excelente composição de cores

domingo, 6 de dezembro de 2009

Até tu, Zara?

A crise na Europa pode estar passando, mas seus reflexos ainda são muito claros.

Acabo de ler em um site espanhol que a Zara fechou seis lojas na Espanha, nestes dias. Doze no total, em 2009, e fechará mais uma até abril de 2010, devido a quedas nas vendas.

A Zara, que pertence ao grupo Inditex, é considerada a maior empresa espanhola do universo têxtil e a segunda do mundo depois da sueca H&M.

  • O mais interessante é que as notícias sobre a Zara sempre foram em sentido contrário, falando de sua expansão planetária e de lucros sem fim.
  • Parecia intocável.
  • Agora, não só deixa espaços abandonados,ou troca por outra marca do grupo, como Lefties, de produtos muito baratos, como não tem planos de inaugurações a curto prazo.

* li no Portal Onne.

Frase

"Se você não gosta de alguma coisa, não compre. Não compre a revista se não gosta da mensagem que ela passa. Se você não gosta da imagem que uma marca quer passar, não consuma essa marca. Não consigo é concordar com quem reclama mas continua consumindo. Se as pessoas não gostam de modelos muito magras, que parem de comprar as revistas com as modelos muito magras e acredite, essas revistas vão mudar rapidamente. São negócios."

  • Da ex-modelo Cindy Crawford, quando questionada sobre a regulamentação do uso de Photoshop.
  • Cindy também disse que se tivesse se lançando agora no mundo na moda, não teria se tornado uma supermodel. "Eu tenho uma aparência saudável demais. Um corpo como o meu não é o padrão das passarelas de hoje".
  • Pois é, Cindy, o mais chato disso tudo é perceber que pensamentos como o seu também não são o padrão da atualidade.

*li no Petiscos.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Neste Natal, como nos anteriores

HOJE É DIA 5 DE DEZEMBRO de 2009.

Dezenas de milhares de paulistanos e de moradores de vários Estados e cidades do Brasil encorpam a longa fila de compradores da rua 25 de Março e arredores.

Por que tantos se arriscam a comprar produtos sem garantia nem mesmo de que sejam originais, quando há 50 shoppings em São Paulo, sem contar lojas de rua?

A reposta é: impostos. Muitos impostos. Um absurdo de impostos. Uma derrama de impostos de fazer Tiradentes se revirar no túmulo.

Não seria mais inteligente cobrar menos impostos, e ampliar a quantidade de pessoas que os pagam? Sim, seria.

Não seria melhor reduzir a economia informal, cobrando impostos mais razoáveis? Sem dúvida. Então, por que continuamos a ser um dos países do mundo que mais massacram os contribuintes, e que mais reduzem o poder de compra de seus consumidores, amassando-os com tantos impostos, taxas e contribuições?

Porque políticos, em nosso país, são julgados pelo que constróem, pelo que inauguram, principalmente em anos eleitorais. Tratamento de esgotos? Não, isso não dá votos, porque fica enterrado sob as ruas e avenidas. Escola? Não, os eleitores votam em estradas, viadutos, centros esportivos, estações de metrô (que são importantes, obviamente). Mas não votam em controle de gastos, em redução de déficit, em impostos bem comportados.

Enquanto sofremos com os limites extrapolados do cheque especial, do rotativo dos cartões de crédito, nosso dinheiro passeia, pagando votos disfarçados de bondades. E nós nem reclamamos.

Como nós somos bonzinhos, não? Como nós deixamos que façam isso conosco? Perguntem aos políticos. Eles sabem, mas não vão contar para ninguém.*

  • E a imagem que ilustra o post veio do Portal Terra desta semana. Mais uma imagem absurda da guerra entre policiais e vendedores ambulantes (camelôs) da Rua 25 de março, na capital paulista.
  • Porque consumidores arriscam suas vidas para garantir as compras de Natal? Compras de "quinquilharias", diga-se, pois por lá não são vendidos artigos de primeira necessidade, como alimentos ou eletrodomésticos.
  • Ou, como bem escreveu José Simão, "o imposto no Brasil não é alto. NÓS É QUE SOMOS BAIXOS!"

* Maria Inês Dolcci, escreve sobre defesa do consumidor. Na Folha de São Paulo, em 05/12/09.